Interesse próprio
por Loyd FuestonO interesse próprio é suficiente para organizar uma economia livre?
A resposta rápida é “Não”. E poucos dos teóricos mais conhecidos do livre mercado jamais pensaram que o interesse próprio era, ou poderia ser, suficiente para organizar, ou manter por muito tempo, uma economia livre. Entre esses teóricos, Adam Smith é frequentemente considerado o principal filósofo do interesse próprio. Em um livro escrito para corrigir uma série de mal-entendidos dos ensinamentos de Smith, encontramos os seguintes resumos da visão de Smith sobre o interesse próprio:
Longe de ser um individualista, Smith acreditava que é a influência da sociedade que transforma as pessoas em seres morais. Ele pensava que as pessoas frequentemente julgam mal seus próprios interesses.
Ainda mais direto ao ponto:
[Adam Smith] considerou a tentativa de explicar todo o comportamento humano com base no interesse próprio como analiticamente equivocada e moralmente perniciosa. [1]
Como Adam Smith certamente percebeu, o interesse próprio será uma das principais forças organizadoras das atividades econômicas em qualquer sociedade, mas isso é tão verdadeiro na sociedade mais repressiva ou brutal quanto em uma sociedade relativamente livre e aberta. A maioria de nós não gostará dos resultados do interesse próprio não temperado pelo respeito pelas outras criaturas. Como um exemplo recente, ao colocar seu país em desvantagem para a maioria dos cidadãos soviéticos, os líderes do Partido Comunista e dos serviços militares e de inteligência soviéticos estavam defendendo seus próprios interesses, pelo menos da maneira como os entendiam ou não entendiam.
As vantagens de que gozam os americanos sobre os cidadãos dos países soviéticos, e as vantagens de que ainda desfrutamos sobre os cidadãos nominalmente livres da Rússia e de outros países da Europa Oriental, são as de uma sociedade organizada para permitir que uma alta porcentagem de americanos ajam de forma a servir tanto a seus próprios interesses quanto a algum estoque substancial de princípios morais. Não apenas nossos hábitos e costumes, mas também nossas leis positivadas – como os de copyright – entrar nessa organização de nossa sociedade, para o bem ou para o mal, mas não de uma maneira moralmente neutra.
O interesse próprio não é necessariamente mau, embora possa levar as pessoas a agir de maneiras moralmente repreensíveis. O amor a si mesmo e o consequente desenvolvimento do interesse próprio é um aspecto de uma criatura que também é um ser social e, portanto, moral. O interesse próprio pode servir aos interesses morais em uma sociedade livre, desde que essa sociedade tenha os fundamentos adequados. Os elementos dessas fundações incluem não apenas uma população que compartilha um corpo substancial de crenças e hábitos morais, mas também as estruturas políticas formais, leis positivas e decisões judiciais aceitas, capazes de apoiar tanto a ordem social quanto a liberdade pessoal. Uma vez que eles estejam em vigor, e uma vez que tenham sido internalizados pela maioria dos cidadãos, o interesse próprio fornecerá uma espécie de combustível para manter uma economia funcionando de maneira eficaz, sem levar a resultados imorais no geral. A questão é sempre: nossa sociedade está organizada de maneira adequada, em suas leis positivas e nos hábitos que ensinamos nossos filhos e reforçamos em nós mesmos, de modo que o interesse próprio e os princípios morais geralmente não entrem em conflito?
As pessoas cientes da matemática moderna ou das técnicas de programação devem apreciar as interações recursivas e inerentemente instáveis entre a moralidade individual e a estrutura social. Para simplificar demais de uma maneira útil: Pessoas com crenças morais substanciais organizam sociedades ao longo dessas crenças e essas sociedades então começam a formar os hábitos e crenças de crianças, imigrantes, etc. de acordo com essas mesmas crenças. Sempre, é um processo histórico confuso que pode ser destruído ou redirecionado para caminhos menos desejáveis. Há inevitavelmente uma questão de saber se estamos nos desviando de um caminho adequado e também uma questão de quão robusta é a sociedade, ou seja, quanta perturbação seria necessária para destruir muito do que há de bom nessa sociedade.
Às vezes, pessoas boas decidirão que algo deu errado e é hora de lutar por um princípio moral, mesmo que seja necessário sacrificar, ou pelo menos qualificar, seus próprios interesses. Nas palavras de Thomas Sowell, um teórico do mercado livre de nosso tempo:
Existem, é claro, valores não econômicos. Na verdade, existem apenas valores não econômicos. A economia não é um valor em si, mas apenas um método de trocar um valor por outro. Se as declarações sobre “valores não econômicos” (ou, mais especificamente, “valores sociais” ou “valores humanos”) pretendem negar a realidade inerente das trocas ou isentar algum valor particular do processo de troca, então tais ideais altruístas não podem ser demonstrado de forma mais eficaz do que trocando ganhos financeiros no interesse de tais ideais. Esta é uma compensação econômica. [2]
No contexto, o professor Sowell não estava argumentando contra aqueles que atribuem algum tipo de poder moral ao interesse próprio; ele estava, em vez disso, argumentando contra aqueles que pensam que deveria haver um caminho fácil para a reforma de uma sociedade que pode ter um defeito moral específico. Esses são os dois lados da mesma moeda – servir aos interesses próprios pode colocar uma pessoa em conflito com os valores morais e a tentativa de servir aos valores morais pode levar a algum sacrifício dos próprios interesses.
O interesse próprio pode ser um combustível poderoso para uma sociedade, pelo menos quando os cidadãos dessa sociedade são indivíduos bem formados, mas não há nenhum aspecto místico ou mágico no interesse próprio que garanta resultados morais. O interesse próprio levará a resultados geralmente morais na medida em que as restrições morais, externas, mas principalmente internas, guiam as ações das partes interessadas. Uma sociedade com as restrições adequadas não passa a existir por algum ato mágico, mas sim pelos atos de pessoas que almejam um propósito mais elevado, seja a preservação da liberdade na sociedade como um todo ou a preservação de um espírito cooperativo dentro de comunidades de programadores, ou talvez ambos ao mesmo tempo.
Notas de rodapé
- Ambas citações são da página 2 de Adam Smith: In His Time and Ours, Jerry Z. Muller, Princeton: Princeton University Press, 1993.
- Da página 79 de Knowledge & Decisions, Thomas Sowell, New York: Basic Books, 1980.